quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Representações dos Tipos Brasileiros na virada do século XIX para XX.

Análise realizada pelo Goliardo Rafael Santos*

O que é o Brasil? Como é construída uma identidade nacional? Tais indagações são uma problemática que desde finais do século XIX surgem através de diversos intelectuais que procuram buscar e definir em que se constitui o Brasil e por quem ele é formado. Segundo Iara Lis Schiavinatto Carvalho Souza no ensaio intitulado “Sobre o tipo popular – imagens do(s) brasileiros(s) na virada do século” em 1870 houve uma labuta intelectual e cultural intensa, relacionadas aos indivíduos sociais (os tipos sociais) passíveis de representação do homem brasileiro.

Em sua abordagem Iara Schiavinatto começa fazendo alusão ao Jeca Tatu, personagem criado por Monteiro Lobato. Personagem interiorano, Jeca Tatu é pobre, apático, fracassado, indolente, ocioso, síntese das mazelas brasileiras. A visão que Lobato possui do trabalhador rural era constituída no Jeca Tatu, alguém inapto à civilização aos moldes europeus.

Para Schiavinatto “... o Jeca foi um tipo representativo do país, com todas as suas agruras, fraquezas e impotências (...) porque coincidia com toda uma compreensão oitocentista de boa parte das elites proprietárias do que era o trabalhador nacional” (SOUZA, 2002, p. 114). Ele, o Jeca Tatu, está intimamente ligado com uma série de problemas que o Brasil enfrenta desde a década de 1870, com aparecimento do movimento republicano, aonde o ideal de governar em nome do povo fazia com que se devesse conhecer o que é este povo.

Como constituir um povo brasileiro em meio a uma elite idealizadora de um trabalhador cujo refletia na figura do imigrante europeu, enquanto a massa nacional era constituída por negros e mestiços pobres? Nesta criação de uma figura simbólica representante do brasileiro, intelectuais como Aluízio de Azevedo, Lima Barreto e João do Rio entraram em cena.

A rua, conforme Iara Schiavinatto, é o lugar onde os tipos populares serão encontrados e representados por tais intelectuais. Esses tipos são diversos, baianas, senhoras nas casas de chá, homens de letras, o Zé povinho, entre outros que formavam um mosaico, uma cartografia dos tipos, aonde eram descritos o cotidiano desses tipos e até suas forças “políticas” que eram manifestadas na rua.

Vale ressaltar que na construção desses tipos, prevalecesse mais uma ordenação, representação e divulgação de tais tipos do que em construir um emblema único, totalizante da nação. Cada intelectual montava de acordo com seu modo os “tipos de rua”, que serão designados também como tipos populares.

As abordagens sobre o “tipo popular” brasileiro deram-se também na forma de desenho. Segundo a autora era uma pedagogia dirigida à população, a figura facilitaria a compreensão da mensagem, fazendo com que o desenho adquirisse uma enorme capacidade de se comunicar.

O trabalho criado na representação dos tipos sociais e sua transmissão à sociedade possui um objetivo: a educação seguida de melhorias sociais para o povo e através do povo. Nesse contexto, Roger Chartier em “O mundo como representação” vem abordar o poder que um texto pode ter em gerar práticas sociais em seus respectivos leitores.
Com o Jeca Tatu de Monteiro lobato os outros tipos sociais e, também, culturais limitou-se as demais figuras representativas do povo brasileiro. Pois deixou-se de lado a cultura vista nas ruas, a cultura dos atores sociais, deixando como afirma a autora “vestígios e respiradouros desses experiências” (p.132).

O fato de se ter uma variedade de tipos sociais representa a dinâmica ocorrida na sociedade brasileira na transição dos séculos, aonde surgiam novos agentes sociais que se procuravam enquadrar na movimentação social da mesma.



*Graduando em Licenciatura e Bacharelado em História (Universidade Federal do Pará) e Graduando em Licenciatura Plena em Ciências da Religião (Universidade Estadual do Pará).

Este trabalho foi avaliado pela professora Dra. Magda Ricci.

Conceito: Bom

Recomendações da docente: Não houve.

O colyseu: a arena de touros e toureiros do além-mar – Belém-Pará (1894-1900)

No texto “O colyseu: a arena de touros e toureiros do além-mar – Belém-Pará (1894-1900)” da aurora Maria de Nazaré Sarges, expõe-se as transformações urbanas decorrente da produção da borracha na virada do século XIX para o XX. Onde cenário citadino de Belém, passa por um processo de ajustamento mediante as políticas públicas de modernização e a busca pela concretização do projeto de civilização nos moldes europeus.

Desse modo, nesse cenário de metamorfoses, Maria de Nazaré Sarges aponta para as ressignificações na esfera do mundo do trabalho. Pois, além dos trabalhadores urbanos “especializados” como os tipógrafos, artistas, carpinteiros, sapateiros, alfaiates, e os “não-especializados” como os vendedores de rua, carroceiros e carregadores, configuraram simultaneamente, “ a nova ordem ditada pela ideologia do progresso.”

Nesse mesmo enfoque, a autora ainda faz alusão para a intensa política de imigração promovida pelo estado. Que se por um lado, havia o discurso de suprir a mão-de-obra e ocupar terras em abundância. Por outro, existia a tentativa de inserção do estrangeiro europeu, que eram símbolos de um modelo civilizador e que, por conseguinte, esteve vinculada a economia da borracha.

Esse processo imigratório trouxe forte influência da cultura estrangeira para a sociedade paraense da época, Esta assertiva, é corroborada pela autora no que concerne o papel do Colyseu Paraense. Práticas de touradas criadas em outubro de 1894 tendo como fundadores indivíduos conhecidos no meio comercial, que buscavam instituir “estratégias de sobrevivênvia, dando expressão a outras práticas, a outras formas de lazer, como as touradas...” repercutindo na esfera social paraense, gerando profundas discussões na imprensa.

Então, as transformações urbanas decorrente do projeto modernizador do estado culminaram num aparecimento de novos grupos étnicos – Portugueses, Espanhóis, Italianos, entre outros – gerando, por conseguinte, novas ocupações profissionais, que dentre outras, a de touteiros estava em foco. Possibilitando assim, uma reconfiguração do espaço social e cultural na esfera urbana belenense. Pois, a imigração era um fator imprescindível para as novas práticas.

Portanto, mesmo com a proposta de uma nova configuração para a cidade de Belém – projeto de civilização e modernização como reflexo da produção da borracha – os atores sociais considerados incompatíveis com esse projeto, continuam existindo e, por conseguinte, mantendo relações sociais de acordo com seus ofícios.

Desse modo, Maria de Nazaré Sarges ressalta uma nova forma de adequação do espaço urbano, destacando os estabelecimentos sociais. Pois, “no novo tecido urbano que se redesenha uma nova maneira de apropriação desse espaço urbano pelos trabalhadores deixa entrever a construção de uma nova sociabilidade e as dissonâncias que se estabelecem como mecanismos de sobrevivência desses grupos.”


*Resenhado por Admarino Júnior, Romyel Cecim e Leandro Fonseca